“Por que você escreve essas coisas de preto?”
por Higor Faria
GELEDES - Instituto Mulher da Negra.
http://www.geledes.org.br/
http://www.geledes.org.br/racismo-preconceito/racismo-no-brasil/22019-por-que-voce-escreve-essas-coisas-de-preto-por-hugo-faria
Recentemente, me perguntaram por que escrevo essas “coisas de preto”. Não foi só uma vez.
Poderia
dizer que escrevo “coisas de preto” porque sou preto, ou porque quero
afirmar e externalizar a minha identidade. Assim como seria possível
dizer que escrevo a fim de encontrar, por meio das “coisas de preto”,
outros pretos — inserção, acolhimento e proteção. Posso também afirmar
que escrevo para que outros pretos se projetem e encontrem pares de
vivências. Tudo isso é motivação e não deixa de ser verdade.
E
mais. É válido falar que escrevo “coisas de preto” para denunciar tanto
o genocídio da nossa juventude negra quanto a falta de oportunidade e
os obstáculos impostos especificamente aos negros quando se fala em
escolaridade e mercado de trabalho. Ou ainda para derrubar padrões que
excluem o corpo negro ou que o coisificam por meio da hipersexualização.
Escrevo “coisas de preto” por isso também, não é mentira.
Escrevo
“coisas de preto” por querer ser um contador de histórias. E quero
também contar a nossa história, como muitos outros negros já fazem há
mais tempo e melhor que eu. O protagonismo me impulsiona: preto contando nossas “coisas de preto”.
Tô
cansado de não negros dizendo como devemos ser,pensar e agir. De forma
geral, isso só resultou em exclusão, em marginalização, em
estigmatização e em genocídio de quem é preto. Existem as exceções.
Existem, mas, por mais que haja um nível de empatia transcendental, o
branco nunca vai dar de cara com os mesmos obstáculos, quem dirá ter que
superá-los. Aliados são mais que bem-vindos. A luta precisa de vocês. Mas o protagonismo é nosso, é preto.
É tempo
de nossa voz ser ouvida e respeitada. Há um pensamento coletivo de que
nós, pretos, somos radicais quando falamos de racismo, enquanto brancos
são sensatos falando do mesmo assunto com as mesmas palavras. Escrevo para acabar com essa lucidez seletiva que legitima só o outro, o não preto, para contar as nossas “coisas de preto”.
Tem quem cante, tem quem atue, tem quem produz, tem quem legisla, e tem quem debate “coisas de preto”. Eu escrevo. É a arma que possuo. Posso
até não manejá-la da melhor forma — ainda. Tenho noção que o
aprendizado é constante e a vontade de acertar o alvo é grande. E também
é por isso que escrevo essas “coisas de preto”.
Sigo com o racismo na mira: uma hora ele não escapa!
Higor Faria é preto, publicitário, estuda masculinidade negra e escreve no https://medium.com/@higorfaria
Belo texto irmão!!!!!
ResponderExcluir