Tudo sobre Cais do VALONGO

Cais no Rio vai virar museu a céu abertoImprimirE-mail
Noticiário cotidiano - Geral
Qua, 21 de Março de 2012 08:26
Quando o Cais do Valongo foi soterrado para a construção do Cais da Imperatriz - que receberia Dona Teresa Cristina, em 1843 -, Dom Pedro II não poderia imaginar que a história escondida do porto que mais recebeu escravos africanos no mundo voltaria à tona dois séculos depois, graças a mais um processo de revitalização urbanística. Dessa vez, no entanto, o alvo é a Olimpíada do Rio, que acontece em 2016, e pela primeira vez desde a construção do Cais da Imperatriz, o Valongo volta a ocupar lugar de destaque na nova paisagem da cidade.

"A realeza se fez suficientemente lembrar, mas não os negros escravizados. Esses foram deliberadamente apagados com a superposição do Cais da Imperatriz", afirma a arqueóloga Tania Andrade Lima, professora do Departamento de Antropologia do Museu Nacional/UFRJ e responsável pelo monitoramento arqueológico do projeto Porto Maravilha.

As localizações tanto do Cais da Imperatriz quanto do Cais do Valongo já eram conhecidas de historiadores e arqueólogos graças a uma antiga coluna com uma pequena placa registrando a presença do antigo porto. Sua estrutura foi revelada durante uma obra de drenagem na zona portuária, durante escavações na rua Barão de Tefé, e devido a forma como o Cais da Imperatriz foi construído - por cima do Cais do Valongo -, o sítio arqueológico encontra-se em ótimo estado de conservação.

Desde que foi revelado, o Cais do Valongo teve sua importância histórica confirmada tanto por meio das descobertas feitas no sítio arqueológico quanto no reconhecimento político da região - uma antiga reivindicação de representações e lideranças do movimento negro no Rio. O prefeito Eduardo Paes já anunciou que a área do Cais do Valongo será transformada num memorial - um museu a céu aberto - que pode se chamar Memorial da Diáspora Africana.

A prefeitura também admite a criação do Circuito da Herança Africana na área do Porto Maravilha. Sob a coordenação da Subsecretaria do Patrimônio Histórico, um conjunto de locais marcantes para a memória da cultura afro-brasileira - que inclui o Cais do Valongo, os Jardins do Valongo, a Pedra do Sal, o Largo do Depósito e o Instituto Pretos Novos, além do Centro Cultural José Bonifácio - estão sendo restaurados e revitalizados com recursos do Porto Maravilha Cultural. Os locais que integram o circuito devem receber sinalização apropriada para que sejam convertidos em pontos de visitação turística e de interesse cultural para escolas. A prefeitura ainda promete a produção de materiais informativos sobre a relevância histórica de cada um, e do circuito em geral.

A decisão pela preservação da área do Valongo dentro do projeto Porto Maravilha foi "sábia", segundo a professora Tania Lima, que defende a contrapartida da história do negro no Brasil dentro do projeto de renovação e "clareamento" do porto. "São extremos", afirma, "mas que devem conviver e funcionar como antídoto contra a amnésia social. Houve uma situação deliberada de apagar a história do complexo do Valongo, uma chaga vergonhosa na vida da cidade", diz a doutora em arqueologia.

Uma das principais descobertas feitas no Cais do Valongo até agora foi a retirada de três canhões de ferro, provavelmente do começo do século XVII. Os canhões foram uma pequena surpresa para a equipe de arqueólogos porque indicam a presença de uma Boca de Fogo inusitada e que não era conhecida no mapa militar do Rio imperial. Ainda espera-se a confirmação de que os canhões estejam entre os mais antigos da cidade, e talvez do país.

Além dos canhões, já foram encontrados diversos artefatos culturais que remetem ao cotidiano dos cerca de 2 milhões de escravos que passaram pelo Valongo durante o seu período de maior atividade, entre 1811 e 1831, como búzios, botões, cachimbos e outros pequenos itens feitos a partir de ossos de animais. Segundo a professora Tania, as escavações no Valongo devem prosseguir até o segundo semestre deste ano. A pesquisa e apresentação das descobertas, no entanto, ainda devem levar mais alguns anos devido à grande quantidade de material encontrado.

Moldado sob inspiração do projeto que deu origem ao Puerto Madero, hoje um dos bairros mais caros de Buenos Aires, o Porto Maravilha prevê um salto dos atuais 30 mil para 100 mil habitantes na região nos próximos dez anos. Os futuros moradores ainda vão contar com mais duas importantes obras: o Museu do Amanhã, do renomado arquiteto espanhol Santiago Calatrava, e o Museu de Arte do Rio (MAR), já em construção na Praça Mauá.

O custo total do Porto Maravilha está estimado em cerca de R$ 8 bilhões, com a maior parte dos recursos proveniente de parcerias privadas por meio de Operação Urbana Consorciada - um instrumento de política urbana criado pelo Estatuto das Cidades e regido pela Lei Municipal Complementar 101/2009. A prefeitura afirma que os investidores do mercado imobiliário é que pagarão a conta da requalificação urbana: a lei autoriza a mudança de uso e o aumento de potencial de construção mediante pagamento de contrapartida financeira por meio da compra de Certificados de Potencial Adicional de Construção (Cepacs). O valor arrecadado será obrigatoriamente investido na requalificação urbana da região.

Ainda assim, foi do orçamento municipal que saíram R$ 350 milhões como investimento inicial para a requalificação da área de 350 mil m2 entre as avenidas Rodrigues Alves e Venezuela, as ruas Sacadura Cabral e Camerino, a Praça Mauá, o Pier Mauá e o Morro da Conceição. A segunda fase do projeto deve estender os benefícios aos bairros do Centro, Santo Cristo, Gamboa, Saúde, Caju, Cidade Nova e São Cristovão. O trânsito no centro da cidade também sofrerá mudanças, principalmente com a demolição do Elevado da Perimetral.

Fonte: Valor Econômico/Por Fred Leal | Para o Valor, do Rio


http://portosenavios.com.br/site/noticias-do-dia/geral/14618-cais-no-rio-vai-virar-museu-a-ceu-aberto
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Enviado por Míriam Leitão e Alvaro Gribel - 05.06.2011|
06h00m

Coluna no GLOBO

Tropeço na História

Foi no antigo Cais do Valongo, perto das pedras que foram descobertas recentemente nas escavações para a recuperação do Centro do Rio, a homenagem a Abdias Nascimento, sete dias após a sua morte. No Valongo os escravos desembarcavam e eram depositados nos armazéns que ficavam na atual Rua Camerino para serem pesados, preparados e vendidos.
O lugar impõe respeito. É impossível não sentir o peso dos dramas vividos ali. Que a cidade possa guardar bem os pontos que estavam encobertos pela nossa dificuldade de olhar o passado com sinceridade e reflexão. Lá, líderes de religiões diferentes misturaram palavras e evocações, junto com as de autoridades como o ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa.
O ministro chegou com bengala e sinais de que seu problema de coluna se agrava. Avisou que enfrentará a limitação o mais breve possível. Que consiga. Misturado aos amigos e admiradores de Abdias foi chamado para falar. O ministro disse que Abdias era único. De fato, é difícil pensar em substituto. Aos 97 anos ele carregava a força da coerência com que combateu o racismo e o dom de unir pessoas com pensamentos diferentes. Abdias trafegava por tantas áreas da cultura e do pensamento que é difícil defini-lo: ele foi jornalista, autor de teatro, pensador, cineasta, político, militante da causa negra.
O cais do Valongo fala por si, e a dificuldade de vê-lo, também. As pedras que reapareceram nas escavações foram encontradas por acaso. O mesmo acaso que reencontrou o cemitério dos pretos novos na Gamboa, onde eram jogados os corpos ou moribundos que não tinham suportado a longa e dolorosa travessia do mar. O que intriga é esse tropeço na História. Ela deveria ser buscada e reverenciada como parte do entendimento do Brasil sobre si mesmo e não ter que submergir aos pedaços numa obra no porto, ou numa reforma de uma casa particular como a que permitiu o encontro de pedaços do cemitério. Foram 350 anos os que o país viveu sob a escravidão. Essa iniquidade ocupou a maior parte dos 511 anos desde a chegada dos portugueses. Felizmente estuda-se mais hoje esse período que foi soterrado de propósito. Não ver é mais confortável, mas o melhor é sempre admitir, entender e superar.
Anoitecia no sítio arqueológico do Valongo e aquele grupo pequeno de pessoas tentava ouvir as palavras de homenagem a Abdias no meio do barulho do rush do Centro. Elisa Larkin, a viúva, havia me dito: aqui não era o melhor lugar? Era.
Desde que Mary Karasch, a historiadora americana, escreveu “A vida dos Escravos no Rio de Janeiro (1808-1850)”, um livro seminal, todos os que se interessam pelo tema, e os jovens historiadores, aprenderam que há vários caminhos que levam às informações sobre o que se passou no Centro velho do Rio. A cidade era porta de entrada de escravos que ficavam nas cidades e dos que iam trabalhar nas plantações de café e cana-de-açúcar ou para as minas de Minas Gerais. O Valongo era um cais de desembarque e o maior mercado de escravos do Brasil. Até 1830 eles eram desembarcados à luz do dia e colocados nos depósitos para ganhar algum peso para serem vendidos. Depois de 1830, com o tráfico proibido para inglês ver, eles eram tirados à noite furtivamente dos navios e os depósitos deixaram de ter janela, o que piorou muito. O cálculo de Karasch é que um milhão de africanos entraram pelo Rio.
O que a cidade deve fazer com esse pedaço redescoberto do cais é preservá-lo para contar essa história. Há hoje estudos valiosos. Há relatos de viajantes que se impressionavam pelas cenas descritas. Um deles, C. Brand, foi ao mercado do Valongo em 1827 e descreve assim o que viu: “A primeira loja de carne em que entramos continha cerca de 300 crianças de ambos os sexos: o mais velho poderia ter 12 ou 13 anos e o mais novo não mais de seis ou sete anos.”
Durante muito tempo o Brasil não estudou essa página da História porque criou-se o mito de que Rui Barbosa teria queimado todos os documentos. Como se sabe hoje, ele queimou os documentos tributários diante da enorme pressão dos escravistas para serem indenizados. Há inúmeras outras pistas pelas quais os historiadores estão escavando esse passado. Karasch descobriu muitas informações nos registros da Santa Casa de Misericórdia. Os donos de escravos mandavam para lá os que estavam morrendo para não ter despesa com o funeral. A Santa Casa registrava idade, de onde tinham vindo, causa da morte. Morriam principalmente de tuberculose. Há outras fontes como os arquivos Nacional, da Cidade e do Itamaraty, registros policiais, comerciais, os jornais da época, os relatos de viajantes. A inglesa Maria Graham, em 1821, encantou-se com a beleza do Rio na chegada à baía: “A cena mais encantadora que a imaginação pode conceber.” No Valongo, relata que fez um gesto de carinho aos jovens negros e eles retribuíram com sorrisos. Há inúmeros relatos dos viajantes, preciosas reportagens. A História vai retornando.
De manhã eu tinha ido à Casa de Rui Barbosa. Lá andei com temor reverencial pela multidão de livros organizados e li com admiração as frases de uma exposição. Numa delas, Rui indeferia o pedido em 1890 dos ex-donos de escravos de que se criasse um banco para indenizá-los pelo prejuízo com a abolição. “Mais justo seria e melhor se consultaria o sentimento nacional se se pudesse descobrir meio de indenizar os ex-escravos” (veja em meu blog o despacho do Rui). O século XIX passeava na minha cabeça enquanto eu vi a noite chegar olhando as pedras do Valongo.

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MNU Rio de Janeiro/RJ



 Ganha as ruas, e se faz  Presente na Caminhada pela 
 " construção do Memorial da Diáspora Africana" na Zona Portuária"

Realização CUT - RJ / Apoio IPCN
Participação dos Movimentos Sociais.

    
          Conhecido como "Cais dos Escravos", o Cais do Valongo, na Zona Portuária do Rio de Janeiro, entraram centenas de milhares de escravos africanos para o Brasil. No final do século XVIII e início do século XIX o Cais se tornou a maior  entrada de escravos de todas as Américas. De acordo com  documentos históricos, foi construído em cima do “Cais dos Escravos”, um outro Cais, chamado de "Cais da Imperatriz", onde recebeu a Imperatriz Tereza Cristina Maria, para se casar com D.Pedro II. O principal objetivo da construção do Cais da Imperatriz, na verdade,  era apagar os vestígio do Cais do Valongo, considerado até então, uma vergonha para a Cidade do Rio de Janeiro.
      Conclamamos a todas e a todos do Movimento Negro a conhecerem, defenderem e se apropriarem de um verdadeiro Patrimônio dos afrodescendentes Brasileiros.

     Abaixo, vídeo e alguns links de reportagens sobre a importante descoberta.

Delio Martins
Coordenação MNU Rio de Janeiro/RJ






Glorya Ramos
Secretária de Combate ao racismo da CUT - RJ



Militante MNU/RJ






Roselene Sergio Ribeiro Comissão Igualdade Racial OAB/RJ e Delio Martins Coordenação MNU-RJ e CIR










Instituto Memorial Pretos Novos




No final da Caminhada a Feijoada





Mauro Viana















http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110303/not_imp686989,0.php
http://noticias.br.msn.com/artigo.aspx?cp-documentid=28718859
http://africas.com.br/site/index.php/archives/11099
http://www.blogdonilmario.com.br/conteudo.php?MENU=5&LISTA=detalhe&ID=2270
http://www.rac.com.br/noticias/brasil/83729/2011/05/13/movimento-negro-promove-caminhada-no-rio.html






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