MARANHÃO - MA
Brasil.
UFMA reserva 22% das vagas para o sistema de cotas para negros
Atualmente, só negros de escolas públicas podem entrar pelo sistema; eles também precisam passar por uma Comissão de Validação de Matrículas
Desde que foi implantado, em 2007, o sistema de cotas raciais na Universidade Federal do Maranhão (Ufma) já sofreu diversas mudanças. Envolta em controvérsias, a política foi ajustando-se de acordo com críticas e propostas para aumentar a exatidão do alcance social.
Uma das principais alterações ocorreu em 2009. Logo no início, não havia restrição aos alunos negros oriundos de escola particular, o que era alvo de muitas objeções. Com a adoção do Enem, há três anos, foi listada como pré-requisito a formação em colégios públicos ou naqueles cuja mensalidade fosse de até determinado valor (R$ 230 em 2011).
O professor Carlos Benedito da Silva, coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros na universidade, afirma que a medida tornou o processo “mais coerente”. Segundo ele, isso se deve ao fato de os estudantes negros de instituições particulares terem qualificação diferenciada e a Ufma, como órgão público, dever priorizar pessoas que vêm do mesmo sistema.
O edital do processo seletivo de 2012 define que é o estudante que deverá se declarar negro, levando em consideração seu fenótipo, ou seja, sua aparência. Então, ele se apresentará à Comissão de Validação de Matrículas.
Esta foi outra mudança importante, visto que no princípio, os alunos apenas levavam formulários com fotos. Agora, o candidato passa por uma entrevista, com perguntas relativas à sua relação com a sociedade enquanto negro ou sua pretensão de participar de algum projeto de pesquisa sobre raça na universidade, por exemplo.
A Comissão é formada por membros de entidades sociais, entre eles representantes do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros, do Movimento Negro Unificados (MNU), do Programa de conexão dos Saberes, professores e alunos da UFMA e do Conselho Municipal da Comunidade Afrodescentes de São Luís (COMAFRO).
Rendimentos
No último vestibular, 22,6% das vagas foram reservadas para negros.
Nas duas chamadas feitas pelo Sisu para o campus de São Luís, em 2011, as notas mais altas alcançadas no âmbito universal foram 9% maiores do que as mais altas do âmbito cotas negro. Já as notas de corte do âmbito universal foram 7% maiores que as do âmbito cotas negros.
Carlos Benedito Silva diz que o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros está fazendo um projeto para avaliar, ainda em 2012, os cinco anos de vigência das costas raciais. Este deverá analisar rendimentos e fazer comparações entre os alunos do universal e das outras ações afirmativas (índio, deficiente físico e escola pública geral).
“Depois do acesso, temos que acompanhar o desempenho do aluno. Também é necessário viabilizar a permanência, com mais bolsas, transporte, biblioteca. Enfim, melhorar a qualidade do serviço oferecido para que a diversidade realmente possa ser vivida”, assinalou.
STF
Em 26 de abril, o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, por unanimidade, a constitucionalidade das cotas raciais em instituições de ensino públicas. Dos onze ministros do tribunal, somente Dias Toffoli não participou do julgamento porque elaborou parecer a favor das cotas quando era advogado-geral da União.
Já na última quinta-feira (4), foi a vez das cotas em universidades particulares, por meio do do programa Universidade Para Todos (ProUni), serem consideradas constitucionais pela Suprema Corte.
Ilma Fátima de Jesus, do Movimento Negro Unificado (MNU) do Maranhão, diz que o grupo comemorou a aprovação. Segundo ela, trata-se de uma reparação justa. “O Brasil não teve projeto de reinserção do negro após a abolição da escravidão. Como se pode ver, mesmo até hoje ainda lutamos por terras quilombolas”, afirmou. “Para algumas pessoas, sair da escola e ir para a faculdade é o caminho natural, mas para quem isso não é a realidade, as cotas fazem uma grande diferença. Os mais preparados são sempre das classes mais altas, então nada mais justo do que dividir as vagas”.
Ilma milita desde os anos 80 e atualmente é coordenadora nacional de formação de militantes do MNU. A ativista rejeita a ideia de que as cotas possam ocasionar situações de conflito no ambiente estudantil. “Cotas não causam preconceito, as pessoas que já são preconceituosas”.
O estudante de comunicação Emerson Machado entrou pela política de cotas no primeiro semestre de 2009. “Acho a atitude do STF sensata, acompanhei parte do debate acerca do assunto, vi algumas reportagens, e que bom que acabaram optando pelas cotas”. Ele nega ter sofrido qualquer discriminação no âmbito estudantil pela forma como teve acesso à universidade: “As cotas não vêm com o intuito de segregar, e sim de somar. Elas têm caráter social acima de tudo, uma vez que trazem pessoas de baixa renda que quase beiram a miséria para um patamar que muitas vezes suas famílias não poderiam custear”, disse.
Karolyne Cantanhede, também aluna de comunicação, diz que se não fossem as cotas, não poderia nem “sonhar em entrar em uma universidade”. Ela sempre estudou em escolas públicas e defende a função social e compensatória das reservas. “As vagas não são dadas, como dizem alguns, mas sim uma coisa que sempre pertenceu a nós por tantos anos de maus tratos, humilhações e sofrimento. Era o mínimo que o governo deveria fazer”.
A Universidade Estadual do Maranhão (Uema) adotou as cotas raciais pela primeira vez no último vestibular. O enquadramento da cor também se deu por meio de autodeclaração do candidato.
Publicação: 05/05/2012 09:00Atualização: 05/05/2012 16:13
http://www.oimparcial.com.br/app/noticia/urbano/2012/05/05/interna_urbano,114919/ufma-reserva-22-das-vagas-para-o-sistema-de-cotas-para-negros.shtml
Uma das principais alterações ocorreu em 2009. Logo no início, não havia restrição aos alunos negros oriundos de escola particular, o que era alvo de muitas objeções. Com a adoção do Enem, há três anos, foi listada como pré-requisito a formação em colégios públicos ou naqueles cuja mensalidade fosse de até determinado valor (R$ 230 em 2011).
O professor Carlos Benedito da Silva, coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros na universidade, afirma que a medida tornou o processo “mais coerente”. Segundo ele, isso se deve ao fato de os estudantes negros de instituições particulares terem qualificação diferenciada e a Ufma, como órgão público, dever priorizar pessoas que vêm do mesmo sistema.
O edital do processo seletivo de 2012 define que é o estudante que deverá se declarar negro, levando em consideração seu fenótipo, ou seja, sua aparência. Então, ele se apresentará à Comissão de Validação de Matrículas.
Esta foi outra mudança importante, visto que no princípio, os alunos apenas levavam formulários com fotos. Agora, o candidato passa por uma entrevista, com perguntas relativas à sua relação com a sociedade enquanto negro ou sua pretensão de participar de algum projeto de pesquisa sobre raça na universidade, por exemplo.
A Comissão é formada por membros de entidades sociais, entre eles representantes do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros, do Movimento Negro Unificados (MNU), do Programa de conexão dos Saberes, professores e alunos da UFMA e do Conselho Municipal da Comunidade Afrodescentes de São Luís (COMAFRO).
Rendimentos
No último vestibular, 22,6% das vagas foram reservadas para negros.
Nas duas chamadas feitas pelo Sisu para o campus de São Luís, em 2011, as notas mais altas alcançadas no âmbito universal foram 9% maiores do que as mais altas do âmbito cotas negro. Já as notas de corte do âmbito universal foram 7% maiores que as do âmbito cotas negros.
Carlos Benedito Silva diz que o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros está fazendo um projeto para avaliar, ainda em 2012, os cinco anos de vigência das costas raciais. Este deverá analisar rendimentos e fazer comparações entre os alunos do universal e das outras ações afirmativas (índio, deficiente físico e escola pública geral).
“Depois do acesso, temos que acompanhar o desempenho do aluno. Também é necessário viabilizar a permanência, com mais bolsas, transporte, biblioteca. Enfim, melhorar a qualidade do serviço oferecido para que a diversidade realmente possa ser vivida”, assinalou.
STF
Em 26 de abril, o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, por unanimidade, a constitucionalidade das cotas raciais em instituições de ensino públicas. Dos onze ministros do tribunal, somente Dias Toffoli não participou do julgamento porque elaborou parecer a favor das cotas quando era advogado-geral da União.
Já na última quinta-feira (4), foi a vez das cotas em universidades particulares, por meio do do programa Universidade Para Todos (ProUni), serem consideradas constitucionais pela Suprema Corte.
Ilma Fátima de Jesus, do Movimento Negro Unificado (MNU) do Maranhão, diz que o grupo comemorou a aprovação. Segundo ela, trata-se de uma reparação justa. “O Brasil não teve projeto de reinserção do negro após a abolição da escravidão. Como se pode ver, mesmo até hoje ainda lutamos por terras quilombolas”, afirmou. “Para algumas pessoas, sair da escola e ir para a faculdade é o caminho natural, mas para quem isso não é a realidade, as cotas fazem uma grande diferença. Os mais preparados são sempre das classes mais altas, então nada mais justo do que dividir as vagas”.
Ilma milita desde os anos 80 e atualmente é coordenadora nacional de formação de militantes do MNU. A ativista rejeita a ideia de que as cotas possam ocasionar situações de conflito no ambiente estudantil. “Cotas não causam preconceito, as pessoas que já são preconceituosas”.
O estudante de comunicação Emerson Machado entrou pela política de cotas no primeiro semestre de 2009. “Acho a atitude do STF sensata, acompanhei parte do debate acerca do assunto, vi algumas reportagens, e que bom que acabaram optando pelas cotas”. Ele nega ter sofrido qualquer discriminação no âmbito estudantil pela forma como teve acesso à universidade: “As cotas não vêm com o intuito de segregar, e sim de somar. Elas têm caráter social acima de tudo, uma vez que trazem pessoas de baixa renda que quase beiram a miséria para um patamar que muitas vezes suas famílias não poderiam custear”, disse.
Karolyne Cantanhede, também aluna de comunicação, diz que se não fossem as cotas, não poderia nem “sonhar em entrar em uma universidade”. Ela sempre estudou em escolas públicas e defende a função social e compensatória das reservas. “As vagas não são dadas, como dizem alguns, mas sim uma coisa que sempre pertenceu a nós por tantos anos de maus tratos, humilhações e sofrimento. Era o mínimo que o governo deveria fazer”.
A Universidade Estadual do Maranhão (Uema) adotou as cotas raciais pela primeira vez no último vestibular. O enquadramento da cor também se deu por meio de autodeclaração do candidato.
Publicação: 05/05/2012 09:00Atualização: 05/05/2012 16:13
http://www.oimparcial.com.br/app/noticia/urbano/2012/05/05/interna_urbano,114919/ufma-reserva-22-das-vagas-para-o-sistema-de-cotas-para-negros.shtml
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