Combata o preconceito
Exclusão é atraso. Deve ser refutada coletiva e individualmente
Simon Franco, da EXAMEPrezado simon: Tenho 28 anos, sou economista com especialização em administração financeira. Minha pergunta é delicada: por que existem tão poucos executivos negros? Falta de profissionais, de oportunidades? Preconceito? O senhor já identificou executivos negros como talentos emergentes? Que conselhos daria a nós, que sofremos com essas dificuldades, mas que desejamos também um espaço ao Sol? (Felipe Cruz,* de Minas Gerais)
Caro leitor: não sou sociólogo nem historiador para falar com propriedade sobre a questão do preconceito racial. Mas uma coisa é certa: a discriminação é atrasada, burra e reacionária. Economicamente, desastrosa. No entanto, sejamos sinceros, ela existe, às vezes de forma explícita, às vezes dissimulada. No alto mundo empresarial, a hegemonia é de pessoas brancas, não adianta negar a realidade. Você tem razão quando diz que é raro encontrar um executivo negro. Mas esse quadro está mudando, de forma lenta no Brasil, de modo mais acelerado nos países desenvolvidos. No caso brasileiro, é preciso notar que a população de origem africana ficou concentrada, pelas razões que todos conhecemos, nas camadas mais pobres do país.
Isso a faz sofrer freqüentemente um duplo preconceito: o racial e o econômico. De nada adianta uma novela da TV, como Terra Nostra, terminar com as cenas da elite da virada do século passado assumindo a paternidade de filhos que tiveram com escravas ou apadrinhando "negrinhos" (o termo é da própria novela!) para que pudessem estudar. Além de falseadora, essa visão reforça um equivocado paternalismo: o "negrinho" pode subir socialmente, desde que seja pelas mãos do branco.
Essas simplificações históricas servem para mostrar o tamanho do desafio que ainda existe na sociedade e no mercado: 500 anos de exclusão. Mas, como disse, isso está mudando. A crescente democratização do ensino e da cultura tem colocado cada vez mais as pessoas pobres em condições de desenvolver seu potencial. Além disso, a consciência mais avançada hoje, em parcelas significativas do empresariado e da população em geral, de que a exclusão social é gerada por problemas na estrutura do país, e não por culpas individuais ou étnicas, está dando origem a ações que visam dar igualdade de oportunidades a mais pessoas. Do ponto de vista empresarial, é a chamada "responsabilidade social", que passa gradualmente a ser exigida pelos próprios consumidores. Recentemente, a manchete de um jornal econômico indicava que as ações sociais das empresas têm reflexo positivo na aceitação de seus produtos. Entre essas ações sociais estão projetos pela igualdade de raça e gênero. E não são paternalistas.
Se do ponto de vista mais geral as coisas começam a andar melhor, nem sempre do ponto de vista individual isso acontece. Eu já identifiquei - poucos - executivos negros, mas notei que algumas vezes eles foram aceitos e contratados porque eram muito melhores que o necessário para vencer os outros candidatos à mesma vaga. Precisaram de muito mais "raça" para ultrapassar alguns preconceitos raciais. E conseguiram.
Essas simplificações históricas servem para mostrar o tamanho do desafio que ainda existe na sociedade e no mercado: 500 anos de exclusão. Mas, como disse, isso está mudando. A crescente democratização do ensino e da cultura tem colocado cada vez mais as pessoas pobres em condições de desenvolver seu potencial. Além disso, a consciência mais avançada hoje, em parcelas significativas do empresariado e da população em geral, de que a exclusão social é gerada por problemas na estrutura do país, e não por culpas individuais ou étnicas, está dando origem a ações que visam dar igualdade de oportunidades a mais pessoas. Do ponto de vista empresarial, é a chamada "responsabilidade social", que passa gradualmente a ser exigida pelos próprios consumidores. Recentemente, a manchete de um jornal econômico indicava que as ações sociais das empresas têm reflexo positivo na aceitação de seus produtos. Entre essas ações sociais estão projetos pela igualdade de raça e gênero. E não são paternalistas.
Se do ponto de vista mais geral as coisas começam a andar melhor, nem sempre do ponto de vista individual isso acontece. Eu já identifiquei - poucos - executivos negros, mas notei que algumas vezes eles foram aceitos e contratados porque eram muito melhores que o necessário para vencer os outros candidatos à mesma vaga. Precisaram de muito mais "raça" para ultrapassar alguns preconceitos raciais. E conseguiram.
O primeiro passo para isso é ter consciência do problema, identificá-lo como obstáculo real, e lutar para que deixe de ser obstáculo. Essa luta se dá coletivamente de várias maneiras: em organizações sociais, movimentos por legislação adequada, pela educação etc. E a luta individual, sem jamais tentar renegar a própria pele, é valiosa.
Um país em construção como o Brasil não pode deixar o preconceito ser uma barreira para o talento, para a inteligência e para a produtividade de milhões de cidadãos. O país precisa de todos para atingir seu verdadeiro desenvolvimento. Essa percepção, aliada à globalização, que obriga todos os setores, por razões econômicas, a se relacionar com um mundo de diferenças étnicas e culturais, também é um dos motores para ultrapassar os preconceitos. Há muito por fazer, e pessoas como você, que levantam esse tema numa revista como EXAME, estão ajudando a combater a insensatez, a burrice e o atraso de quem ainda carrega preconceitos.
Simon Franco é headhunter e presidente da Simon Franco Recursos Humanos, de São Paulo.
*Nome alterado por solicitação do leitor
FONTE: Revista Exame
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