13 de jul. de 2020

RACISMO VIVENCIADO PELA ATIVISTA THAMIRES FORTUNATO MARTINS

NOTA DE REPÚDIO E DENÚNCIA AO PROCESSO DE RACISMO VIVENCIADO PELA ATIVISTA THAMIRES FORTUNATO MARTINS




As representações da sociedade civil organizada abaixo, em conjunto com as demais signatárias, que figuram ao final desta nota, vêm a público manifestar sua posição de apoio e solidariedade à THAMIRES FORTUNATO MARTINS, mulher negra, militante do Movimento Negro Unificado, pedagoga, cineasta e antes integrante do Levante Popular da Juventude – RJ, em repúdio e em denúncia face ao RACISMO que vivenciou em razão das ações de sua ex-companheira e sua ex-terapeuta, reiterado nos campos políticos aos quais integravam: Levante Popular da Juventude – RJ e Consulta Popular.


Os fatos tiveram início previamente à abertura processo seletivo realizado na cidade do Rio de Janeiro para o CAPS ad III Antônio Carlos Mussum, realizado pela empresa #IABAS - Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde, para a vaga de Redutora de Danos em maio de 2019.


A referida ex-terapeuta, também integrante da Consulta Popular, à época era a recrutadora responsável pela seleção mencionada acima, e apontou que Thamires Fortunato preenchia os requisitos da vaga que era voltada, preferencialmente, para pessoa negra e com sua formação acadêmica. A então terapeuta informou que a avisaria em tempo hábil para participar regularmente da seleção.


Contudo, ao momento da abertura da vaga, Thamires se encontrava em comunicação restrita pois sem celular. Assim, sua ex-terapeuta encaminhou as informações sobre a entrevista através da ex-companheira da ativista negra. Apesar de manterem contato rotineiro à época, a ex-companheira não notificou Thamires sobre a abertura da seleção e ainda submeteu sua própria candidatura à vaga.


Não obstante a ex-companheira ser mulher branca e não ter formação adequada, mesmo o perfil preferencial da vaga sendo o de pessoa negra, a ex-companheira foi estranhamente selecionada para a vaga através da recrutadora (ex-terapeuta de Thamires).


Em seguida Thamires tomou ciência do processo seletivo e de não ter sido avisada do mesmo por sua ex-companheira. Também veio ao seu conhecimento que esta mesma ex-companheira foi selecionada por sua ex-terapeuta, apesar da sua inadequação identitária e profissional, para a vaga.


Thamires Fortunato Martins denunciou tais fatos que expressam a rotina das relações que circundam as pessoas negras em uma sociedade racista, excludente e elitista, tantas vezes naturalizadas.


No caso em concreto, as agentes promotoras e reprodutoras do racismo nem ao menos se retrataram, pelo contrário, intensificaram suas ofensas, hostilidade e atitudes discriminatórias frente a Thamires, não obstante estas mesmas à época comporem as fileiras do Levante Popular da Juventude - RJ e da Consulta Popular, ambos movimentos que se propõem a incidir criticamente diante das opressões.


O Movimento Negro Unificado - seção RJ[1] e Criola[2] estabeleceram com ambas as organizações (Levante Popular da Juventude - RJ e da Consulta Popular) diálogos para demonstrar a gravidade dos acontecimentos e questionar sobre suas responsabilidades, medidas educativas e sancionatórias frente às ações de suas militantes (re)produtoras do racismo. Contudo somam-se mais de 12 (doze) meses da ocorrência dos fatos e cerca 8 (oito) meses das conversas, porém sem muito avanço.


A despeito do Levante Popular da Juventude - RJ e Consulta Popular - RJ terem admitido que suas militantes agiram (re)produzindo o racismo, até o momento as suas ações foram: por parte do Levante Popular foi comunicado que a ex-companheira de Thamires se desligou do movimento e foi lançada nota genérica sobre o acontecido; quanto a Consulta Popular não foi realizada nota pública ou qualquer outro pronunciamento ou ação.

Enquanto isto, Thamires vivenciou o desdobramento do racismo em descrédito, assédio psicológico, ameaças, violências físicas, isolamento social e político, promovidos por sua ex-companheira e sua ex-terapeuta até o culminar de sua saída do Levante Popular da Juventude - RJ e mudança do estado do Rio de Janeiro para tentar restabelecer nova rotina de vida.


Estes fatos vividos pela ativista negra estão tomados pelo racismo que forja a sociedade e os sujeitos no Brasil. Se configura enquanto exclusão, iniquidade e subalternidade se manifestando entre as pessoas e suas relações. Se manifesta nas ideias, práticas e política para a produção e manutenção de privilégios e de dominação que alimentam o próprio racismo como sistema (CARNEIRO, 2005, p.29 apud REIS, 2014).


O racismo mobiliza dispositivos que legitima privilégios, por um lado, e que naturaliza opressões, por outro. Ou segundo Lúcia Xavier “o racismo nos mata e oferece, a quem não abre mãos dos privilégios, dinheiro, boa vida, boa comida, água e terra”. Frente ao exercício de privilégios, exigimos mudanças e ações efetivas!


A presente nota consolida posição do MNU - RJ e de Criola e demais organizações, movimentos e coletivos signatários a fim de exigir, do Levante Popular da Juventude - RJ e da Consulta Popular, enfrentamento ao racismo enquanto proposição política e de transformação da vida, a partir das recomendações abaixo:


1.  Ações, em pelo menos 3 reuniões coletivas e abertas, de repúdio aos atos cometidos pelas militantes contra Thamires Fortunato Martins e anúncio das medidas de reparação e transformação promovidas;

 


2.  1. Realização de campanha por um mês em suas redes sociais e outros canais de comunicação para repúdio aos atos cometidos pelas militantes (ex-companheira e ex-terapeuta) contra Thamires Fortunato Martins, anúncio das medidas de reparação e transformação promovidas, bem como para demonstrar a necessidade do agir antirracista nas ações políticas;

3. 2.  Oferecimento de suporte jurídico e de saúde para Thamires Fortunato Martins por meio de documento escrito e endereçado à ativista;

 

4.  3. Construção/consolidação de política interna antirracista de combate a opressões e que preveja não apenas sanção a atitudes discriminatórias e de (re)produção de racismo e outras opressões, mas também ações preventivas educativas/formativas continuadas e obrigatórias para todas(os) as(os) membras(os) de ambos os movimentos;

 

5.  Que as organizações façam referência a esta nota, aderida por organizações, grupos, coletivos e instituições, durante todas as ações citadas acima.

Assinam esta nota as organizações, grupos, coletivos, instituições e ativistas:


 

Escrevem e Publicam esta nota e assinam:

-       CRIOLA

-       Movimento Negro Unificado - seção RJ

-       UNEGRO/RJ - UNIÃO DE NEGRAS E NEGROS PELA IGUALDADE.

 

Assinam:


-       CEDINE _ Conselho Estadual dos Direitos do Negro

-       ETNICAS RAIZES

-       Frente de Juristas Negras e Negros

-       Grupo Ação e Resistência

-       Nós na Luta

-       Rede das Pretas - Coletivo de Mulheres Negras da Região dos Lagos

-       Sindicato de Trabalhadoras Domésticas de Nova Iguaçu.



[1]O MOVIMENTO NEGRO UNIFICADO, seção RJ, organização fundada em 1978 contra o racismo e todas as formas de intolerância, que busca incansavelmente a construção do Projeto Político de Poder para os negros neste país.

[2]CRIOLA, organização da sociedade civil fundada em 1992 e, desde então, conduzida por mulheres negras, define sua atuação com base em sua missão e visão institucionais, a partir da defesa e promoção de direitos das mulheres negras em uma perspectiva integrada e transversal, em combate ao racismo, ao sexismo e a lesbofobia e para a melhoria das condições de vida da população negra.


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